E lá vai a opinião pública ao sabor da onda, é o sopro turbínico dos mass média que ulula. O interesse público surge a golfadas de ar bem ritmadas, e eu, por mais que tente evitar, lá vou arrastado no turbilhão. Ouço e releio vezes sem conta opiniões repetidas, discursos plagiados, que se arrastam longamente, sem resolução aparente e carentes de novidade. Tem sido assim nos últimos tempos, por toda a parte, televisão, internet, jornais, e outros que tais. Ainda ontem me deparei com resquícios da longa jornada da discussão pública sobre o aborto, opiniões repisadas e ressuscitadas que me causaram algum enjoo, retardatários que pensam que ainda nem tudo está dito acerca do assunto, e como pecam pelo excesso de verbosidade. Eis que surge agora um tema novo, a Ota, o aeroporto, as discussões intermináveis sobre a melhor localização, como se fosse esse o fulcro do problema e não as grossas fatias de capital e lucro localizados que o projecto parece envolver. Na verdade, qual a legitimidade para trazer a debate público um tema tão técnico como é o da construção dum aeroporto? Não deveria esse debate ficar a cargo dos especialistas? Sem grandes piruetas nem espalhafate?
E começam a surgir por toda a parte as opiniões de arrasto, avolumando-se diariamente, o tamanho dos textos engrossando à medida que o inconsciente popular se embriaga de argumentos, levados no arrastão discreto dos opinion maker - insidiosamente modelando consciências. Faz-me sentir cansado, a discussão empertigada de temas que todos discutem, repisar o óbvio em discursos longos que levam à exaustão pela repetição. Será opinião que se está a formar, ou será que se estão a formar devoradores de opinião? Quem me explica a diferença?