(...) 4. A importância da escola para o desenvolvimento - conceitos espontâneos e conceitos científicos (continuação...)
Segundo Vigostki, a optimização dos processos mentais na sua evolução para o conceito puro, será por um lado um trajecto gradual – será impossível um conceito ser simplesmente transmitido pelo professor ao aluno “de uma vez por todas” - e por outro, um trajecto que complementa intrinsecamente os conceitos científicos e os conceitos espontâneos. A aquisição dos conceitos terá que passar por uma maturação gradual que depende da interacção com o meio, embora centrado nas estruturas cognitivas do aluno. Ao contrário de Piaget - que defende a relação entre o conceito espontâneo e o conceito não-espontâneo como um conflito destinado a ser ganho pelo pensamento extrínseco dos adultos - Vygotski defende que o desenvolvimento natural dos conceitos será essencialmente um processo unitário, e não um conflito entre formas de intelecto antagónicas e mutuamente exclusivas. Por sua vez e ao contrário de Piaget, Vigostki considera que os conceitos científicos e os conceitos espontâneos se complementam, ou seja, que fazem parte de um mesmo processo de desenvolvimento, interagindo e contribuindo mutuamente para o amadurecimento intelectual dos jovens formandos. No entanto, defende que o conceito induzido é claramente mais profícuo – o aprendizado geralmente precede o desenvolvimento - pois promove a ascensão da criança para níveis intelectuais mais elevados. Não seria possível à criança abordar as questões trabalhadas na escola sem uma estrutura mínima já plenamente desenvolvida. Ao chegar à escola, a criança está já na posse de um sistema de conceitos que adquiriu espontaneamente. No entanto, não tem ainda consciência desses conceitos, pois foram adquiridos segundo acções práticas que não isolam e distinguem o agir e o acto mental idealizado pela acção. É aqui que os conceitos científicos se tornam essenciais. Ao ser confrontado com um sistema mais vasto, um sistema de sistemas, com varáveis diversas e diversificadas, a criança toma consciência plena do pólo centralizador que a capacidade de abstracção representa relativamente à mera relação unívoca com a singularidade da acção prática. Por outras palavras, a criança apercebe-se da sua capacidade reflexiva, e simultaneamente que pode organizar o mundo distanciando-se dele, apenas com o poder da sua imaginação - a sua mente pode ser muitas coisas, e todas as coisas podem ser diferentes na sua mente. É um mundo de possibilidades que se abre à sua frente.