(...) O desenvolvimento da capacidade de abstracção ... (continuação)
B. Estágio dos Conceitos Potenciais – Esta fase caracteriza-se pelo critério da unicidade. Enquanto que no estágio anterior o critério de agrupamento se pautava por uma generalidade de atributos preferenciais que tornavam os objectos semelhantes, agora o critério é substituído pelo agrupamento com base num único atributo. Vigostki sugere que este traço característico dos conceitos potenciais (a tendência para a analogia com base em critérios de selecção unitários e singularizados), manifesta-se também nos animais. Este facto poderá ser constatado, por exemplo, nas experiências de Koehler, já que os chimpanzés tendiam a utilizar outros objectos compridos de modo a tentar alcançar as bananas inacessíveis. Esta evidência, denota portanto, uma tendência para a abstracção, já que instintivamente, as operações psíquicas tendem a isolar determinados princípios que não estão ligados a um único objecto – no estádio pré-verbal mais precoce, as crianças esperam nitidamente que situações semelhantes levem a resultados idênticos. Poderíamos ser levados a colocar a seguinte questão – Mas o complexo associativo também não isola os elementos segundo características singulares e tendencialmente abstractas? Vigostski Responde – a diferença reside no facto de nos conceitos potenciais, o critério tender para a solidez, ao contrário do complexo associativo, que como vimos, era volúvel e tendia a alterar-se constantemente – no pensamento por complexos, o traço abstraído é instável, não ocupa uma posição privilegiada e facilmente cede o seu domínio temporário a outros traços. Nos conceitos potenciais surge a tendência para a perenidade e para a solidez, características que visam estabelecer critérios de relação revestidos pela universalidade, indefectíveis.
Segundo Vigostki, as suas investigações têm o condão de provar que a teoria tradicional de desenvolvimento dos conceitos tem lacunas e erros. A formação de conceitos não se baseia na simples interacção das associações, mas mediante uma operação intelectual em que todas as funções mentais elementares participam de uma combinação específica. Essa operação é dirigida pelo uso das palavras para centrar activamente a atenção, abstrair determinados traços, sintetizá-los e simbolizá-los por meio de um signo. Estas operações mentais são primeiramente organizadas através da formação de complexos, aproximando-se posteriormente da abstracção pura por via dos conceitos potenciais. Neste percurso de desenvolvimento, o uso da palavra é fundamental, tal como a interacção com interlocutores que servem de modelo e de núcleo orientador para o sentido e significação, que de outro modo se dispersaria por vias não coincidentes – a palavra conserva a sua função directiva na formação dos conceitos verdadeiros, aos quais esses processos conduzem – não se entenda contudo que a função mediadora da palavra e as relações interpessoais entre interlocutores seja sempre vantajosa para uma criança